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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A moda brasileira veste o mundo!


Aquilo que eu vi, ouvi e – principalmente – divaguei:
Qual a imagem o design de moda brasileiro no exterior? Como desenvolver uma identidade de moda no Brasil? Estes questionamentos serviram de base para a segunda edição do projeto Design Mais que ocorreu ontem a noite no Moinhos Shopping, em Porto Alegre. Participaram do debate os designers Mauro Slomp e Luiz Eduardo Siqueira Campos, além de Aldine Paiva, editor da revista L’Officiel Brasil. A mediação ficou por conta da jornalista Queli Giuratti.
Muito se falou em identidade brasileira, e todos foram unânimes ao declarar o conceito como “caricato”, desdenhando a reprodução de bananas nas vestimentas –talvez por se tratar de um estereótipo antigo, em voga nas antigas marchinhas carnavalescas de Carmem Miranda. Em contrapartida, os convidados elogiaram os criadores que utilizam rendas, casca de coco e castanhas como matéria prima de suas criações.
Coco, Castanha ou Banana? A troca da fruta significaria o refinamento de uma nova autofagia nacionalista? Acho duvidoso. Há anos Andy Warhol já alçou nossa renegada banana a patamares mais elevados. A referência me parece muito mais vanguarda 60’s do que adorno carnavalesco.
Ainda sobre criação e identidade criativa: Luiz Eduardo Siqueira Campos contou que foi contratado para atuar como diretor criativo da Victor Hugo, no intuito de dissociar a marca da estrangeira Louis Vuitton. Façanha na qual parece ter se saído muito bem. Quem já era adolescente nos anos 90 deve lembrar-se das réplicas de LV, carimbadas por “VHs” e com precinhos acessíveis (pero no mucho!). Desde então, as inspirações da marca já não parecem tão explícitas.
Ainda, em relação à valorização das logomarcas ele citou alguns exemplos:
  • A caneta Mont Blanc é carregada no bolso da camisa e não dentro da pasta – lugar onde deveriam ser guardadas;
  • Bulgari é o relógio mais cobiçado do mundo, mas não o melhor. Seu principal atrativo é o logo gigante, que aparece mesmo à distância;
  • Prada, Fendi e Gucci investindo em sapatos e bolsas de jaccard com padrões de logomarca se tornaram representação de status social;
  • O sapatênis Prada com uma etiqueta aparente na parte de trás virou febre entre os homens.
O designer frisou a (óbvia) inexistência de criação em todos os itens acima. Todavia, explicou que tais produtos existem – e são campeões de venda - porque o mercado pede isso. A mediadora do debate completou perfeitamente o raciocínio: “as marcas substituem com competência o sobrenome de quem as usa”.
Mas, o que o público deseja afinal? Criação ou status?
E aquela história de novo luxo como handmade exclusivo? O discurso é excelente, tipo um DIY de riqueza e poder. Mas a bolsinha de tecido super bacana feita pela sua amiga habilidosa e criativa não deve custar mais de 50 reais, montante que – mesmo multiplicado por 100, 200, 300 – ainda não tem expressão alguma no mercado. E no fim das contas, por mais linda que seja (e ainda que exclusiva), sua bolsa artesanal não figura em nenhuma wishlist da Vogue e tampouco foi clicada na mão de alguma it girl que mereça um get the look na blogsfera modística.
Luiz reforçou que a principal função do designer é criar necessidades, é tão somente “money maker”! Porém, esse papel criativo não pareceu cabível ao criador brasileiro. A conclusão é que os desejos de consumo raramente são criados emterra brasilis e a grama do visinho nunca nos pareceu tão verde. O mercado espera que algum estilista consagrado diga que determinado produto é bacana, para que então vire objeto de cobiça. A partir dessa premissa, nossa identidade dependeria do acaso! Vai que damos sorte e Marc Jacobs resolve fazer sutiãs-coco-terra-samba-style na coleção de beach wear, já pensou? Depois das novas (e medonhas) babuchas Chanel terem voltado ao imaginário consumista, eu já não duvido de mais nada. Biquini-coco pelo menos tem DNA made in brazil, acho justo.
Na contramão desse capitalismo selvagem, Aldine Paiva (questionado por Gabriela Casartelli) – encontrou uma função paralela para a criação-fazedora-de-dindin:
Design é também um manifesto social. A indumentária também é mídia e através dessa premissa é possível criar outros caminhos.
E nesse caso, a bolsinha da sua amiga parece manifestar muito mais do que a repetição das iniciais de gente que (quase) ninguém conhece. Afinal, quem é Luis Vitão?
Gostou?
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Bjs,
Até amanhã,
Bia.

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